12 de jan. de 2011

Ensinar os Nativos Digitais

16 de Dezembro, 2010, Jorge Simões

Mark Prensy em dois artigos publicados em 2001 (Prensy, 2001a e Prensky, 2001b) e, mais recentemente, no livro Teaching Digital Natives – Partnering for Real Learning, apresenta a sua visão sobre a geração de pessoas que, nascidas nas décadas de 1980 e 1990, estavam a entrar no século XXI tendo vivido sempre imersos num mundo dominado pela tecnologia. Esta geração, que Prensky designa por nativos digitais, cresceu tendo como “língua” nativa a linguagem digital das tecnologias de informação e comunicação. Por oposição, as gerações anteriores, onde encontram ainda muitos dos professores dos nativos digitais, são imigrantes digitais. Estes, podem aprender a nova “língua” digital mas esta nunca será a sua “língua” nativa. Por isso, falarão sempre a “língua” digital com sotaque. A partir desta visão metafórica do contexto em que vive a geração dos nativos digitais, Prensky defende a necessidade de uma adaptação radical dos métodos de ensino a essa realidade onde coexistem as diferentes vivências dos alunos, os nativos digitais, e as dos seus professores, os imigrantes digitais. A existência dos nativos digitais é também defendida por Downes (2006) e por Tapscott (1998) que designa essa geração por “net generation”. Os nativos digitais são também designados por geração Y.

A contrapor a estas perspectivas de existência de uma geração digital em relação à qual os sistemas de ensino tradicionais se encontram desfasados há quem defenda a procura de mais evidências empíricas que sustentem a necessidade de adaptar os sistemas de ensino aos nativos digitais. Bennett, Maton e Kervin (2008) criticam a existência de uma geração digital tão distinta das gerações anteriores que obrigue a novos métodos de ensino. Defendem a necessidade de estudos mais aprofundados argumentando que o uso de tecnologias e as competências digitais reveladas pelos indivíduos da geração actual de estudantes não é uniforme. Embora reconhecendo que vivemos num mundo fortemente influenciado pela tecnologia assim como a adesão das gerações mais novas a essa realidade, argumentam a necessidade de aprofundar a investigação neste domínio e evitar o que designam por “pânico moral”.

Independentemente da polémica à volta deste tema e de haver a necessidade de investigar com maior profundidade a adaptação dos sistemas de ensino aos nativos digitais, a existência desta geração digital é um facto. E não faltam estudos empíricos que o demonstram: ver, por exemplo os posts Inquérito EU Kids Online: Políticas de Segurança na Internet e Software Social no Ensino e os estudos da Kaiser Family Foundation e da Nielsen Company.

Qual será então o caminho a seguir? Como garantir que a sociedade futura seja constituída por pessoas com conhecimentos e competências mais desenvolvidas? O que é que no futuro, será importante conhecer e de que forma se deve obter esse conhecimento? Quais as competências a desenvolver? As respostas a estas questões dependerão do que a sociedade actual entender o que deve ser uma pessoa instruída no século XXI (ver Competências para o Século XXI e Marc Prensky’s Essential 21st Century Skills).

Independentemente das respostas só é possível um ensino de qualidade com professores competentes, cientificamente bem preparados, alunos motivados e uma sociedade que promova a aquisição de conhecimentos e de competências como um dos seus valores fundamentais. A tecnologia será apenas mais uma ferramenta que auxilia no processo? Se há uma coisa que a Web 2.0 nos ensinou é que o importante são as pessoas e as suas interacções e não as tecnologias. Estas têm um lugar importante mas para muitos são apenas um meio. No entanto, na opinião de Siemens (2009), a tecnologia não é neutra. A tecnologia é filosofia. As ferramentas moldam a visão que os indivíduos têm do mundo e influenciam as suas acções.

Um projecto como o escolinhas.pt tem o mérito de envolver todas as pessoas e entidades com responsabilidades da formação das gerações mais novas: encarregados de educação, professores, autarquias e sociedade em geral. Todos estes actores do processo educativo de crianças e jovens podem colaborar entre si e participar activamente tirando partido de todas as ferramentas sociais da plataforma. As pessoas são o fundamental e a tecnologia apenas vem potenciar de forma cada vez mais significativa as suas interacções, criando as necessárias sinergias para um ensino de qualidade e adaptado às novas realidades.

Referências:

Bennett, S., Maton, K. and Kervin, L. (2008), The ‘Digital Natives’ Debate: A Critical Review of the Evidence. British Journal of Educational Technology, 39: 775–786. doi: 10.1111/j.1467-8535.2007.00793.x.

Downes, S. (2006). E-Learning 2.0. eLearn Magazine.

Prensky, M. (2001a). Digital Natives, Digital Immigrants. On the Horizon, 9, 5, 1–6.

Prensky, M. (2001b). Digital Natives, Digital Immigrants, part II. Do they really think differently? On the Horizon, 9, 6, 1-6.

Prensky, M. (2010). Teaching Digital Natives – Partnering for Real Learning, Corwin.

Siemens, G. (2009). Technology as Philosophy, Elearnspace.

Tapscott, D. (1998). Growing Up Digital: The Rise of the Net Generation. New York: McGraw-Hill.

Dica da sempre maravilhosa @profteresa

Fonte http://migre.me/3AAlv

Um comentário:

Teresa Pombo disse...

Oi Robson! muito obrigado pelo seu elogio! é óptimo verificar como alguém agarra essas minhas dicas e faz uma síntese tão boa destas questões usando a língua portuguesa. Continuação de um excelente trabalho!