14 de set. de 2012

Quem salva a educação? A tecnologia! O professor! Ou os dois juntos?


Cena 1: Sala de aula sem as TICs: Sala de aula com professor em aula expositiva, alguns observam o professor, uns dormem sobre a carteira escolar, outros jogam pelo celular e um atira uma bolinha de papel sobre o colega .

Cena 2: As TICs na escola: Sala de aula com professor em aula expositiva com seu laptop, alguns observam o professor, uns dormem sobre a carteira escolar, outros jogam pelo celular e um atira uma bolinha de papel sobre o colega.

A Tecnologia chegou à escola. Mas a educação mudou?

Quando recebi o convite do Robson para escrever no espaço “Caldeirão de Ideias Convida”, pensei na oportunidade de dividir algumas questões relacionadas à formação do professor e a apropriação de tecnologias. Usarei aqui o termo Tecnologias da Informação e Comunicação ou TIC por entender que esse resume em muitos aspectos as ferramentas tecnológicas que mais são usadas na educação hoje.

Por trabalhar com educação e fazer parte dos chamados imigrantes digitais, geração que migrou das ferramentas analógicas para as digitais, eu me perguntava se um dos caminhos para salvar a educação pública seria o uso maciço das TIC na escolas. No entanto, conclusão a que cheguei foi a de que mesmo com os avanços na tecnologia e a entrada das mesmas nas escolas, essa pergunta está muito longe de ser respondida.

Alguns pesquisadores entendem que a aplicação das TIC na educação coloca a escola em sintonia com o momento histórico da sociedade, por outro lado alguns estudiosos chamam a atenção para o fato de que a chegada das TICs na escola atendem principalmente as necessidades de formação rápida de mão de obra atendendo, com isso, interesses puramente capitalistas.

Estando a serviço do capital ou do desenvolvimento natural da sociedade, não podemos negar a sua existência. O mundo está em constante mudança e, querendo ou não, tecnologias das mais variadas estão chegando à escola. Já não é possível ignorar esse fato e por isso vemos, nos sistemas de ensino, políticas públicas de difusão de TICs. Entretanto, entendemos que antes qualquer medida envolvendo a adoção de TICs na educação deve-se investir na formação do professor .

Historicamente vemos que as políticas públicas adotaram uma postura de imposição verticalizada para o uso das TICs nas escolas. Esse modelo gerou muita resistência por parte dos professores, que vistos como necessitados de formação passaram por “capacitações”, “reciclagens”, “atualizações” , entre outras tantas denominações para cursos instrucionais.

No entanto, esses processos não consideravam, como parte fundamental da inserção das tecnologias o próprio professor e seus saberes. Entendemos que na construção de um projeto democrático para e com o uso de tecnologias na escola, os saberes docentes devem ter um papel primordial. Como lembra Tardif (2002),

(...) o saber não é uma coisa que flutua no espaço: o saber dos professores é o saber deles e está relacionado com a pessoa e a identidade deles, com a sua experiência de vida e com a sua história profissional, com as suas relações com os alunos em sala de aula e com os outros atores escolares na escola, etc. Por isso é necessário estudá-lo relacionando-os com esses elementos constitutivos do trabalho docente.

Aliado ao que consideramos acima temos ainda um outro obstáculo: a chamada cultura escolar. Hábitos antigos, enraizados por anos, que centralizam o saber na figura do professor e o processo de aprendizagem reproduzindo o sistema “bancário” ou seja o aluno recebe do professor depósitos de conhecimento. As transformações por que passa o mundo, evidenciam outro paradigma para esse professor, tirando-o do centro e colocando-o em um novo “lugar”, lugar esse que será dividido com várias fontes de informação mas que, por outro lado aumentam ainda mais a importância desse profissional se considerarmos seu papel como mediador do ensino e aprendizagem.

Entender como pensa e como age o jovem hoje é parte importante da tarefa do professor.


Uma cena bem comum nas escolas são alunos usando celulares e tablets em sala de aula. Geralmente esses alunos estão jogando. Segundo Jane McGonigal, especialista à frente do Game For Change, se a humanidade gastasse 21 bilhões de horas jogando, poderia encontrar muitas soluções para diversos problemas do mundo. Para a autoral, através do jogo podemos desenvolver competências que ajudariam a transformar o mundo. As TIC tiraram do professor a “posse das informações”. Os livros e enciclopédias de papel davam conta das certezas. Já com os Blogs e as Redes Sociais, a informação está disposta 24horas por dia. A autoria aparece de maneira anárquica pela internet. A volatilidade das informações compartilhadas colocou um desafio ao professor. Como pensar em Rede? Como compartilhar ou mediar esse mundo? Uma pista foi dada pelo mestre Paulo Freire:

“A educação autêntica, repitamos não se faz de A para B, de A sobre B, mas de A com B, mediatizados pelo mundo”. (Paulo freire-Pedagogia do Oprimido).

A transformação de hábitos é, na verdade, um dos grandes desafios em todas as áreas da atividade humana, seja no mundo escolar ou no mundo do trabalho. Todos nós em um determinado momento das nossas vidas já enfrentamos algum desafio que exigiam uma transformação de hábitos. Valorizar o saber docente, a aprendizagem colaborativa em redes e colocar o professor como autor de materiais digitais são caminhos possíveis que oferecem potencialidades para entender o novo momento na educação com as tecnologias na escola.

Não sei se a tecnologia vai salvar a educação, porém o binômio professor e tecnologia é exigência para construir um modelo democrático. Acreditamos na potencialidades das TIC no sentido de romper o espaço- tempo e que a melhoria da educação pública é possível e se apresenta como capaz de tornar a nossa sociedade pautada na solidariedade humana.

Como fazer isso?

Pensando colaborativamente, considerando o saber do professor buscando conhecer melhor como pensam esses profissionais e como eles podem contribuir para construção de um modelo que dê conta das demandas do mundo atual.


Bibliografia recomendada:

Tardif, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
Freire, P. Pedagogia do oprimido, 17ª. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra,. 1987.
Velasquez,F. Vamos mudar o mundo? Como? Jogando! In: EducaçãoNota10 http://www.educacao10.syncmobile.com.br/?p=442#comments . Acessado em 25/07/2012. http://www.ted.com/speakers/jane_mcgonigal.html, Acessado em 30/072012

Sobre o autor: Francisco Velásquez, Coordenador de Novas Tecnologias Educacionais, Mestrando do NUTES-UFRJ, Professor de História da SEEDUC ,SME RJ, Educopédia e Escol@24horas.
Twitter: @professorcronus ; Facebook: FranciscoPedroVelasquez ; E-mail: franciscopedro@gmail.com

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